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Projeto BioCMPC destina um aporte de R$ 2,75 bilhões

Reportagens | NEGÓCIOS E MERCADO | 27.08.2021




No início de agosto, o Grupo CMPC anunciou o
projeto BioCMPC, que destinará um aporte de
R$ 2,75 bilhões à modernização da planta industrial
de celulose de Guaíba-RS. Além de contemplar
a implantação de importantes incrementos
tecnológicos voltados à atualização operacional, o projeto inclui
novas medidas de controle e gestão ambiental.
Em um evento virtual direcionado à imprensa para anunciar
a mais recente frente de dedicação do Grupo, Francisco
Ruiz-Tagle, CEO das empresas CMPC, ressaltou que o Bio-
CMPC é uma proposta que demonstra práticas robustas de
ESG (sigla para Environmental, Social and Governance). “Estamos
ampliando ainda mais a nossa performance, reduzindo a
possibilidade de ocorrência de eventos que geram incômodos
à comunidade e adotando as melhores estratégias de governança
socioambiental. Com a iniciativa, teremos um avanço
significativo da performance, tendo como base a melhoria no
monitoramento e controle de pontos sensíveis da operação
industrial”, explicou.

“Com esses cuidados, vamos nos tornar
uma das unidades produtoras de celulose mais sustentáveis do
Brasil em vários parâmetros, e ainda qualificar nosso desempenho
operacional a ponto de aumentar a capacidade produtiva em 18%”, completou sobre o adicional que representará
350 mil toneladas anuais de celulose à planta que hoje produz
cerca de 1,9 milhão de toneladas de celulose por ano.
O BioCMPC soma 31 frentes de trabalho, que serão divididas
em três blocos: nove ações relacionadas à implantação de
novos equipamentos de controles ambientais e o repotenciamento
de sistemas já existentes, oito novas iniciativas voltadas à
gestão ambiental e 14 ações de modernização operacional.
Das nove ações referentes ao controle ambiental, Mauricio
Harger, diretor-geral da CMPC no Brasil, destacou duas: a primeira
diz respeito à instalação de um novo precipitador eletrostático,
que resultará em uma eficiência de 99% na retenção de
material particulado, enquanto a segunda refere-se à geração de
energia limpa, com a instalação de uma nova caldeira de recuperação
e a descontinuidade do uso da atual caldeira de carvão,
resultando em uma redução de 60% nas emissões de gases de efeito
estufa (GEE) da unidade e a posicionando entre os menores
níveis de emissões atmosféricas das indústrias do setor no Brasil.
No que compete às ações de melhorias em gestão ambiental,
o executivo frisou que a CMPC será pioneira no cenário nacional
ao criar um Centro de Controle Ambiental voltado ao
monitoramento contínuo (24h) de toda a operação industrial, a
fim de prevenir qualquer tipo de interferência na comunidade
de entorno ou qualquer tipo de desajuste em relação aos parâmetros
ambientais definidos na licença da empresa. Na prática,
o Centro será um espaço dedicado a acompanhar de forma
on-line a performance ambiental da empresa, contando com
tecnologia de ponta para gestão dos indicadores e performance
ambiental da operação.
No âmbito da modernização operacional, o BioCMPC diminuirá
consideravelmente o volume de resíduo gerado – em
específico, o composto químico originado na caldeira de recuperação
–, e eliminará 100% dos resíduos de cinzas. Vale destacar
que a planta de Guaíba já é referência mundial em economia
circular, reciclando 100% dos resíduos sólidos oriundos do processo
industrial.

Práticas ESG estendem-se à implantação do projeto


Com o andamento do BioCMPC, a previsão é de que sejam
criados cerca de 7,5 mil novos postos de trabalho durante a execução
das obras. A CMPC planeja que aproximadamente 50%
dos fornecedores contratados sejam de empresas locais, tornando
o projeto não só o maior investimento em ESG do estado,
mas também proporcionando uma grande geração de valor
compartilhado com as cadeias produtivas nacionais.
As obras de implantação também terão caráter sustentável.
Além da utilização de mão de obra e fornecedores locais, não
haverá canteiro de obras na área de empresa. “A estrutura será
instalada em local distante da unidade industrial para não gerar
transtornos às comunidades vizinhas”, esclareceu Harger.
Outro fator evidenciado pelo diretor-geral da CMPC no Brasil
é que a mobilidade urbana da região não será afetada. “Todo
acesso de pessoas, máquinas e equipamentos será feito pelo
acesso privado da empresa junto à BR-116, evitando, portanto,

qualquer tipo de interferência no trânsito local. Os horários de
obra também serão diferenciados, com atividades ocorrendo de
segunda à sexta, das 8h às 18h.”
O anúncio do investimento vai na contramão do cenário de
retração econômica provocada pela pandemia da Covid-19, contribuindo
diretamente para a retomada dos negócios no País. Os
recursos destinados ao projeto serão injetados no mercado durante
o período de sua implantação, que se estenderá pelos próximos
dois anos. A gestão pública também ganha um incremento
de aproximadamente R$ 350 milhões em tributos municipais,
estaduais e federais. “Antes a sociedade esperava que as empresas
trabalhassem para reduzir seus impactos. Hoje em dia, isso é apenas
o ponto de partida. No século XXI, espera-se que as empresas
não gerem problemas e ainda ajudem a sociedade a superarem
seus próprios desafios. E é isso que estamos fazendo. Basta considerarmos
que a pandemia agravou os índices de desemprego, e o
BioCMPC vai ajudar fortemente na criação de novas oportunidades
de trabalho”, evidenciou Harger.
Sobre o incremento de produção que a CMPC colocará no
mercado em 2023, Raimundo Varela, vice-presidente do negócio
de Celulose, salientou que o contexto atual é muito saudável
para o segmento de celulose e as perspectivas continuam sendo
de crescimento para os próximos anos. “O mercado tem espaço
suficiente para absorver a produção adicional proveniente do
BioCMPC, lembrando que nossa carteira de clientes também
é bastante diversificada, o que contribui para essa inserção ser
muito tranquila.”
Embora o projeto BioCMPC seja focado em celulose de fibra
curta, Harger afirmou que a companhia aposta em inovação
para explorar todas as possibilidades futuras da indústria
de base florestal. “Temos investido bastante em Pesquisa e Desenvolvimento
nos últimos anos. A criação de uma vice-presidência
de Inovação em 2020, quando completamos 100 anos
de existência e reformulamos o nosso propósito, confirma essa
dedicação que vem acontecendo de forma mais constante nos
últimos tempos”, contextualizou. A unidade de BioPackaging,
por exemplo, busca melhores usos da celulose, principalmente
como matéria-prima para fabricação de embalagens para alimentos.
“Também temos experimentado algumas variações de
produção, a partir do atendimento a clientes com demandas específicas,
incluindo celulose não branqueada”, citou o executivo,
adicionando que há outras possibilidades em estudo.

Expandindo o olhar ao planejamento futuro, Ruiz-Tagle
sublinhou que a atenção da CMPC será focada no BioCMPC
até 2023, esclarecendo que um projeto voltado à construção de
uma nova unidade no Brasil não está no radar por enquanto,
pois a companhia não tem disponibilidade florestal para o planejamento
de uma nova linha no momento. O programa de fomento
RS+Renda, que visa a parcerias com pequenos e médios
produtores rurais de regiões próximas às operações florestais da
companhia, com apoio completo em todas as fases do processo
produtivo, desponta como uma das estratégias da empresa para
ampliar as fontes de obtenção de madeira necessária a uma futura
ampliação da capacidade vinda de um projeto greenfield.

Caroline Martin
Especial para Revista O Papel