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BIOTECNOLOGIA NA BIOMASSA

Artigos Assinados | ARTIGO | 23.10.2021




A primeira ação estratégica nacional em bioeconomia foi
implementada pela Alemanha em 2011 e, desde então,
outros países têm buscado alinhar seus planos de desenvolvimento
e, consequentemente, de ciência e tecnologia,
para atender às novas diretrizes. A construção de uma economia
mais sustentável tem se alicerçado em rotas tecnológicas
distintas e de políticas e ações pautadas nas suas aptidões
competitivas e, principalmente, tendo em vista a riqueza dos
recursos naturais de alguns países (Carbonell et al., 2021).
Esta tendência pode ser observada na União Europeia, que
tem se concentrado na economia circular, bem como em países
concorrentes do setor de celulose e papel, casos de Canadá e
Finlândia, que estão em estágios avançados na estruturação dos
chamados “produtos da floresta”.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) preconiza que a bioeconomia, por meio da
biomassa e a biotecnologia, contribui com parcela importante
da produção econômica mundial. Sua emergência está relacionada
a princípios relativos ao desenvolvimento sustentável
e sustentabilidade ambiental, envolvendo quatro elementos:
biomassa renovável, biotecnologia, conhecimento e integração.
No Brasil e no mundo, cada vez mais são incentivadas políticas
para o desenvolvimento de pesquisas na área de bioeconomia.
Exemplo importante no Brasil foi a criação em 2008 da
Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), turbinada em
2011 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que lançou
uma agenda para estimular a inovação no País, abordando
principalmente os temas associados à biotecnologia e à biodiversidade.
Documento essencial para o entendimento da bioeconomia
no Brasil foi também produzido pela CNI, intitulado
“Bioeconomia e a Indústria Brasileira” (Pereira G., 2020).
Outra importante iniciativa para explorar as oportunidades da
bioeconomia em nosso País foi o trabalho desenvolvido entre junho/
2015 e junho/2018, envolvendo mais de 1.500 especialistas,
incluindo pesquisadores, técnicos do setor privado, formuladores
de políticas públicas e outras partes interessadas, intitulado
“Agropolo Campinas-Brasil: roadmap das áreas estratégicas de
pesquisa visando a criação de um ecossistema em bioeconomia
de classe mundial” (Carbonell S. A. M. et al., 2021). Os principais
resultados apontaram as melhores oportunidades e os desafios
tecnológicos e não tecnológicos em Pesquisa, Desenvolvimento e
Inovação (PD&I) para 13 áreas estratégicas para o Brasil, abrangendo
agricultura, alimentos, saúde, bioenergia e química verde,
incluindo as principais políticas públicas necessárias.
Conforme Carbonell et al. (2020), vislumbra-se um grande
potencial e perspectivas futuras para que a bioeconomia seja
consolidada no Brasil, principalmente em vistas de amplas
oportunidades oferecidas pela biodiversidade tropical do País.
Segundo os autores, há que se entender que as soluções dos
países do Hemisfério Norte não servirão como modelo, dada a
realidade socioeconômica brasileira. Entretanto, estas deverão
ser utilizadas como referência para a implementação de ações
colaborativas em ciência e desenvolvimento tecnológico, acesso
a novos mercados e criação e implantação de políticas regulatórias
nacionais e internacionais, tornando assim possível ampliar
os benefícios econômicos, sociais e ambientais.
No Brasil, a economia verde tem se fortalecido ao longo
dos anos, com base em sua ampla biodiversidade tropical, com
atuação diferenciada dos setores da bioenergia e produtos da
floresta, destinados a substituir aqueles originários de recursos
fósseis. Conforme Pereira (2020), a bioeconomia emprega tecnologias
inovadoras, a fim de originar uma ampla diversidade
de produtos, a partir de recursos biológicos. Logo, a bioeconomia
possui diversos elementos positivos para unir suas partes
interessadas em torno de um objetivo comum: tornar o planeta
mais sustentável e nossas sociedades economicamente viáveis,
fazendo uso inteligente da biodiversidade.
Silva et al. (2018), buscou quantificar o valor da bioeconomia
para o Brasil, mensurando sua contribuição para as vendas
das atividades econômicas locais e em outros países, com
base nas tabelas de insumos e produtos da OCDE de 2016. Em
2016, o valor das vendas atribuíveis à bioeconomia alcançou
US$ 285,9 bilhões no Brasil e US$ 40,2 bilhões para as vendas
das atividades econômicas localizadas em outros países, totalizando
US$ 326,1 bilhões.

MAURO DONIZETI BERNI
PESQUISADOR DAS ÁREAS DE MEIO AMBIENTE E ENERGIA DO NÚCLEO INTERDICIPLINAR DE PLANEJAMENTO ENERGÉTICO (NIPE), DA UNIVERSIDADE DE CAMPINAS (UNICAMP-SP)