PAPEL E CELULOSE E A
INDÚSTRIA 4.0: MITOS E VERDADES
A
indústria de papel e celulose cresceu durante
a pandemia, diferentemente da maior parte
da economia nacional. O setor, primeiro maior
exportador mundial, é considerado um termômetro
de vendas, já que o aumento da produção de
embalagens corresponde ao aquecimento da demanda por
produtos no mercado, em especial no varejo online.
A transição para a chamada Indústria 4.0 foi inevitável. E,
com ela, surgiram muitas dúvidas.Informações desencontradas
e incorretas talvez expliquem a demora da área de papel
e celulose em abraçar integralmente a transformação digital
(TD), apesar de algumas das principais organizações já
estarem em processo acelerado.
Para esclarecer alguns pontos e reforçar a importância
do assunto, é de grande utilidade abordar os mitos e verdades sobre a transformação digital e como ela evita gargalos
em todas as etapas, reduz custos, otimiza processos e logística, entre outros benefícios para as empresas.
O primeiro mito: a TD deverá estar baseada exclusivamente em computação em nuvem.
Não é verdade. Transformação digital é algo bem mais
abrangente. Fundamenta-se na coleta e no uso de dados disponíveis e na automação para tomada de decisões de risco. A
estratégia da Indústria 4.0 inclui sinergias entre tecnologia
da Informação (TI) e tecnologia de operações (TO), visando a
potencializar as soluções por meio de um trabalho integrado,
porém, é algo muito complexo de ser conquistado na prática.
O uso de computação em nuvem pode acrescentar valor em
várias soluções, contudo, há de se avaliar a melhor arquitetura para cada caso, analisando os prós e contras de arquiteturas em nuvem, on-premise ou híbridas, sendo esta análise
um estágio fundamental na jornada da TD, mas não o único e
nem isolado dos demais.
Outro mito: a TD é um pacote de soluções prontas criadas por fornecedores. Está totalmente longe da realidade. Há
pelo menos 20 anos, as estratégias e soluções para o setor
têm sido alinhadas a partir da observação de gaps em níveis
corporativos, com a constante necessidade de reduzir custos
e melhorar a comunicação entre setores.
Achar que a criação de pequenos projetos, isoladamente,
ou simplesmente implementar soluções prontas de mercado,
representa menos risco por comprometer menos a estrutura, caso algo não saia como o previsto, também faz parte do
pacote mitos.
Percebemos exatamente o contrário: pulverizar processos
compromete o valor das soluções e retarda o processo institucional. Por experiência própria, posso atestar que modelos top down, cuja arquitetura de gestão parte de uma visão global
das operações e negócio para chegar depois a níveis mais específicos, revelam-se mais eficazes, principalmente se organizados corretamente e comandados por C-Levels.
Outro mito é o da necessidade de desvincular os recursos
humanos da TD. A transformação da Indústria 4.0 deve abordar, sim, os recursos humanos no processo de produção, seja
em automação, melhoria de controle ou ainda na relação com a
inteligência artificial (IA). Todas as soluções partem de problemas criados por limitações de diferentes níveis de competência. Ao integrar recursos humanos à TD, estamos minimizando
conflitos e ajudando na capacitação de profissionais, que ficarão mais bem preparados para o novo mercado.
Por fim, novamente esbarramos num mito frequente, o de
que apenas gigantes do mercado são capazes de aderir plenamente à TD. É bom lembrar que isso já se provou falso nas indústrias de manufatura. Existem várias camadas para um programa
de transformação ser bem-sucedido. A tecnologia é importante,
mas os principais desafios em processos de transformação digital vão além do aporte de tecnologia.
Com frequência, o desejo de usar ferramentas de fornecedores,
instrumentação ou produtos específicos isolados prejudica a estratégia. Basta observar que as empresas do setor que reuniram
resultados mais interessantes de transformação digital são justamente as que envolveram a ampliação e integração do uso de diferentes tecnologias, muitas das quais já utilizadas pela empresa,
mas com uma visão global adaptada à sua realidade. A aceleração
da TD entre alguns dos grandes players se mostrou extremamente
positiva nos casos em que se adotou soluções customizadas.
Captar, integrar, gerar valor de dados oriundos de diferentes fontes e conquistar uma maior agilidade de análises para a
tomada de decisões estratégicas são as bases para um programa de transformação digital de sucesso, o qual deve ser mantido através de uma cultura continuada de governança de dados,
maximizando assim o retorno sobre os investimentos, acelerando a velocidade de entrega de novas soluções, aprimorando a capacidade de resolução de problemas e disseminando o
conhecimento institucional em todos os níveis da corporação.
As empresas orientadas por dados tendem a ser mais precisas
na conquista de seus objetivos, conduzindo uma abordagem colaborativa para a superação dos inusitados desafios que constantemente surgem na dinâmica do mercado e das operações.
O fato é que estamos em constante desenvolvimento, e
flexibilizar métodos e processos fazparte da jornada. Não temos,
em absoluto, verdades fechadas, incontestáveis. Expertise
éfundamental, mas um olhar atento às novidades para se adaptar
rapidamente às novas demandas do mercado também.