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Artigos Assinados | Carreiras e Oportunidades | 27.01.2022




Oano de 2021 acabou, 2022 começou! E no ano passado falamos muito por aqui das soft skills do momento e das tendências para o desenvolvimento organizacional e, por consequência, de pessoas. Foi um ano bastante desafiador e com grandes aprendizados para quem lidera ou trabalha com gente. Em retrospectiva, esse olhar se expandiu no mercado como sendo uma grande onda, no que diz respeito a cuidar do capital humano das organizações. As empresas passaram a falar mais sobre segurança psicológica e seus impactos no engajamento do time, nos resultados da equipe e na saúde dos colaboradores. Entendemos que é possível dar feedback e apoiar o desenvolvimento das pessoas, antes de decidir que elas não são competentes o suficiente para entregar o que solicitamos delas e com isso fomos obrigados a rever nossa forma de nos comunicar. O que parece depois de tudo isso é que o mundo moderno já decidiu exigir bastante daquilo que não temos pronto e, obviamente, isso desacomoda a gente. Não que tenhamos vivido especificamente até hoje em algum tipo de zona de conforto em meio a um mundo pandêmico, não mesmo; mas temos uma tendência a nos acostumar até com o que não está bom e, quando isso acontece, nossas reações são culpar e responsabilizar o mundo, a empresa, o chefe e o colaborador, não necessariamente nesta ordem, mas estas são atitudes comuns por nós manifestadas. Neste caminho nascem os conflitos, situações, em que, por alguma razão, as partes perdem a clareza pelo que iniciaram o diálogo e partem para um verdadeiro cabo de guerra, onde todos os lados desejam estar corretos. Em meio aos conflitos, buscamos palavras bonitas para parecermos cultos e interessados em ouvir o que o outro lado tem a dizer. Entretanto, a verdade é que na maioria das vezes, enquanto o outro fala, pensamos em uma resposta perfeita que vai desarmar completamente o oponente e nos dar a sensação de “A-hã... sabia que eu estava certo”. Se essa narrativa fez sentido para você, ou se tem passado por situações como essa, você não precisa aprender a falar. Na verdade, precisa aprender a escutar. Conflitos trazem à tona expectativas, desejos e necessidades de quem reclama, ou seja, clama por alguma coisa.  É importante então desaprender como aprendemos a lidar com essas questões e utilizar um dos recursos mais “caros” quando o assunto é compreender o outro: a escuta. Mas por que será que escutar é algo tão desafiador? Pesquisas apontam que nós utilizamos apenas 25% da nossa capacidade auditiva e, após dois meses de uma conversa que tínhamos a impressão de ter sido muito importante, lembramos apenas de 25% das coisas que foram ditas. Ouvir é uma capacidade biológica do cérebro, porém, escutar exige de nós análise, concentração e, por consequência, interesse e tempo. Como humanos, tendemos a selecionar o que escutamos e, na maioria das vezes, retemos em nossa memória apenas aquilo que nos interessa, além de, claro, da nossa habilidade quase que inata de julgar e criticar tudo que ouvimos, principalmente quando o assunto é diferente daquilo que esperamos ou acreditamos. Escutar, então, requer treino e desejo genuíno de contribuir em um diálogo; para que isso aconteça é preciso clareza de quando a sua mente leva você para fora deste processo. É importante saber como você funciona e reage ao escutar coisas que não estão no seu script mental e, a partir disso, colocar em prática a tarefa de casa: estar realmente disposto a escutar com presença. Sem dúvida, seus relacionamentos em todos os âmbitos são afetados por sua pressa e por sua falta de interesse. Pode parecer forte, mas é verdade. Gerimos pessoas sem nos darmos conta da responsabilidade que existe por trás deste papel. Criamos filhos, casamo-nos, tudo isso, sem nos preocupar em desenvolver arcabouço emocional – e a questão é que a conta chega em algum momento. No trabalho isso fica ainda mais latente, pois impede que você alcance o que busca, que seja promovido, que se relacione de forma harmônica com os colegas, que seja visto como referência por seu time. Pessoas que não escutam, são pessoas chatas e deselegantes e eu sei que você não quer ser essa pessoa. Assim, escute com carinho o que lhe digo: escutar é o novo normal. Busque formas de olhar para si mesmo e para seus incômodos durante diálogos profundos e entenda o por quê de estar presente para você ser tão desafiador e se desafie a mudar. Que este ano de 2022 venha repleto de bons ouvintes e que possamos construir muito, juntos e bem alinhados!

JACKELINE LEAL
Psicóloga clínica, coach de carreira e consultora em Desenvolvimento Humano e Organizacional.