ECONOMIA CIRCULAR COMO UM DOS
CAMINHOS PARA A RETOMADA VERDE
Mirar adiante é a bússola que guia a caminhada civilizatória, com foco em ir além.
Mas não podemos deixar de visualizar no
retrovisor a trajetória percorrida e as lições
que vamos acumulando. Iniciamos o ano
com uma tarefa árdua, colhida de discussões aprofundadas em
2021: a urgente agenda da retomada verde.
A questão ambiental tornou-se central nas agendas pública,
privada e da sociedade civil. Foi um ano de eventos em escala global, como a Cúpula do Clima, convocada por Biden; o
Fórum Mundial de Bioeconomia, realizado em Belém do Pará; a
COP-15 da Biodiversidade, e a COP-26 das Mudanças Climáticas.
Demos importantes passos. O encaminhamento do Artigo 6 do
Acordo de Paris, que cria um mercado global de créditos de carbono, talvez seja o mais emblemático deles. Agora, há a necessidade
de uma regulação do que foi pactuado. No entanto, a emergência
climática se impõe e nos desafia a agir com audácia e rapidez.
Se queremos conter o aumento da temperatura da Terra, é
fundamental trilhar uma rota de sustentabilidade. Colocar a redução de emissão de GEEs, pois o ponto de partida para nossas
ações não pode mais ser apenas intenção ou retórica – trata-se
do futuro da humanidade.
E, para superar aquele que talvez seja o maior desafio da
atualidade, não podemos repetir o passado e seguir com o mesmo modelo de negócio que nos trouxe até aqui. Nos últimos
séculos, o mundo optou por um modelo chamado de economia
linear, no qual produtos industrializados tinham um ciclo de
vida parecido: extração da matéria-prima da natureza, manufatura, uso e descarte.
Tal modo de fazer negócios perdeu sentido. Um planeta
saudável clama por uma economia com base em novas formas
para desenvolver produtos garantindo o uso mais inteligente
dos recursos naturais. Como comenta Michael Braungart no livro Cradle to Cradle (Do berço ao berço), publicado em 2014,
“Vemos um mundo de abundância, não de limites. (...) E se os
humanos projetassem produtos e sistemas que celebrassem a
abundância da criatividade, cultura e produtividade humanas,
que são tão inteligentes e seguros, nossa espécie deixaria uma
pegada ecológica para se deliciar, não lamentar?”.
Mergulhar de cabeça na economia circular já não é só
mais uma opção, mas uma das ferramentas mais eficazes para
a travessia segura na direção de uma economia descarbonizada. É fundamental investir em cadeias de valor que utilizem
recursos biológicos e inovações tecnológicas na produção de
itens e processos mais sustentáveis em prol do benefício social e ambiental coletivo.
O setor de árvores cultivadas traz à prática esse discurso, assim iluminando, de maneira didática, como este modo de atuar
vai muito além do senso comum da reciclagem do produto final,
que, obviamente, tem sua importância, mas é mais uma entre
tantas ações possíveis no modelo da circularidade.
O reaproveitamento de resíduos, do campo à indústria,
avança ano a ano. A Eldorado, no Mato Grosso do Sul, colocou em operação a Onça Pintada, termelétrica desenhada
para funcionar a partir de cascas, galhos e tocos deixados
pelo plantio no campo. Energia renovável, verde, totalmente
destinada à rede pública, eletricidade verde a ser consumida
por milhares de brasileiros.
Já a CMPC, em Guaíba, no Rio Grande do Sul, recicla 99,7%
dos resíduos sólidos gerados a partir da produção de celulose,
que são transformados em mais de 15 novos produtos como fertilizante orgânico, chapas de madeira MDF, matéria-prima para
produção de cimento, entre outros.
A lignina, talvez, seja a matéria-prima com um dos maiores
potenciais do setor de árvores cultivadas. Fruto do processo da
fabricação de celulose, vinha sendo utilizada para geração de
energia renovável nas unidades fabris do setor. Contudo, graças a
avanços e inovações, está ganhando valor agregado e se tornando
alternativa sustentável em substituição a itens de origem fóssil em
resinas, concreto, termoplásticos, entre outros produtos.
Como não poderia deixar de mencionar, a reciclagem de papel posiciona o Brasil como um dos líderes mundiais. A taxa de
recuperação em 2020 chegou a 70,3%, acima do nível global de
59,1%. Mas não é só isso. A partir de visão, inovação e investimento, a Papirus estabeleceu parceria com a cleantech chamada
Pólen e criou mecanismo de créditos de reciclagem. Um modelo
que estimula e recompensa quem realiza a ação de reciclagem.
Já a Ibema tem o Ibema Ritagli, primeiro papelcartão triplex
pós-consumo do mercado brasileiro. O produto tem 50% de
fibras recicladas em sua composição, sendo 30% advindas de
pós-consumo.
Estes são alguns dos exemplos que podem servir de inspiração a diversos outros setores e que demonstram ser possível fazer da circularidade uma prática crescente e comum no
processo industrial. Tempo, investimento e planejamento são
necessários. Mas o resultado traz benefícios ambientais, sociais
e econômicos.
Essas iniciativas devem iluminar o caminho da iniciativa privada e do poder público na travessia rumo a uma retomada verde. Sem a sustentabilidade como ponto de partida,
esta caminhada não terá êxito. Para isso, projetos de longo
prazo são fundamentais. Esta não pode ser bandeira de um
ou outro governo, mas uma agenda de Estado e da sociedade, de caráter permanente, didático e estruturante. A questão
ambiental não pode mais ser tratada como um bom marketing por companhias, mas é imperativo que seja o princípio
de qualquer jornada. O consumidor assim o exige, cada vez
mais – o planeta e as futuras gerações serão gratos